Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Dura Lex, sed latex – Parte I



“Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei. Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica.” Não encontrei frase melhor para iniciar este meu comentário quanto essa de Fernando Sabino. Hoje ao meio-dia assisti a um programa policial – destes sensacionalistas que são exibidos todos os dias – e um caso em especial chamou minha atenção. Não por acaso foi a última reportagem a ser exibida, eles precisavam segurar a audiência. E conseguiram. Era mais um caso de furto.
Uma mulher, jovem, caixa de um supermercado da capital, foi flagrada roubando vinte reais. Ela justificou-se afirmando que precisava do dinheiro para poder comprar um remédio para o filho, que é especial. Não discutirei aqui se o que ela fez foi crime ou não, pois furto é furto. Independente do que você roube, seja um quadro de Vinci ou dois reais, você deve pagar por isso. Não se pode ter, à força, o que não é seu. A mulher foi encaminhada à delegacia. Além de ser réu confesso, havia várias provas contra a mesma, como fitas de vídeo. Até aí tudo bem.
Segundo o apresentador deste programa, Samuka Duarte, a mulher “desceu” para o presídio nesta manhã, 10. Lá, irá ter de pagar quatro anos de reclusão, já que o crime é inafiançável – assim colocou o apresentador e seu repórter, Emerson Machado. Não tenho conhecimento acerca das leis deste país, confesso; porém, o pouco que vejo na prática já me enoja. Não que eu ache a atitude de prendê-la errada (embora pense que poderia haver uma pena mais leve), mas em comparação com outros inúmeros casos, é irritante perceber a incapacidade do pobre de se defender.
Vivemos num país de crimes engravatados. Num país cujos herois estão confinados numa casa luxuosa, podendo ser assistidos por toda a população a qualquer momento. Eles estão conseguindo alienar um país de 190 milhões de pessoas. Isso é sério. Em que país a lógica legislatória seria capaz de condenar uma pessoa que furta vinte reais de um supermercado, e inocentar alguém que rouba milhões de reais de seu próprio cofre?
Se o Brasil fosse sério... não, não falemos de utopias! Digamos apenas que se o nosso país fosse um país justo, haveria o mesmo tratamento para todos. Tratamento bom ou mal. A classe política assumiu um status de superioridade social, e tornou-se intocável. Ora, paremos com essa baboseira! Os políticos são pessoas comuns, escolhidas por pessoas comuns para que as representem politicamente. Tiririca é o exemplo mais claro, disso. Nossa população não pode continuar aceitando tudo que lhe é imposto! Essa mulher não pode pegar quatro anos de prisão enquanto “furtos legalizados” ocorrem com o conhecimento e suborno de nossas “autoridades”. Um dia desses vi outro caso interessante.
Num acidente de automóveis na capital, um dos envolvidos era um vereador da cidade. Ele estava visivelmente embriagado. Todos sabemos quando alguém está embriagado. Na entrevista que o policial concedeu, disse que não sabia ainda se o vereador estava bêbado, na sua opinião ele estava limpo. Faça-me o favor, entregue esta sua farda! Até quando vamos engolir o autoritarismo dos nossos políticos? Até quando o Brasil vai ser o país dos mais ricos? Daqueles que enriquecem retirando dinheiro dos pobres para dar aos ricos, numa espécie de Síndrome de Robin Hood às avessas? 

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