Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Um negócio que eu, o narrador, escrevi

Eu decidi escrever agora porque eu estou empolgado. É que antes, quando eu pensava em escrever, e me empolgava mesmo - mas empolgava mesmo, daquelas empolgações que empolga o mais desempolgado dos anti-empolgação, coisa meio freudiana, entende? - ai eu, o escritor, o cara, o homem das letras, o senhor léxico, eu pensava que era difícil, ai mesmo empolgado, eu, enquanto escritor, detentor da criação literária, não escrevia. Ai eu abria o notebook e não conseguia digitar nada. Mas agora vou escrever um texto pra vocês. Eu, o escritor.
Começa assim:
Era uma vez... não, era uma vez não porque isso já está ultrapassado; existiu num castelo um... espera, essas histórias de castelo não têm mais nada a ver com a história do Brasil... Existiu no Planalto Central um rei que gostava muito de seu povo, ele... ai foi demais, um rei no Planalto Central, mó viagem, ó? Existiu no Planalto Central um político que amava seu país - já dizia Aristóteles: "É preferivel o impossível que convença ao possível que não convença"... um dia esse político foi morto, fim!  ... pera, ficou muito rápido esse final; mas ele vai morrer, isto é certo, não há com o que se preocupar. Acho que já escrevi muito nesse parágrafo, vou pra outro porque visualmente fica mais bonito.
Pronto, agora vai. Quando digo eu, sou eu, o narrador, ou o escritor, não sei bem. Como dizia, havia no Planalto Central um político que amava o seu povo. Um dia ele quis sair do comando da coisa e preparou uma mulher para assumir seu lugar - não sei, ficou muito na cara, né? Tá bom, então ele preparou um homem vestido de mulher para tomar posse do país, e ela assumiu e... e como ele vai ser morto? Cara, essa parada de escrever é difícil. Eu, o narrador, o escritor, o homem das letras, fico aqui torrando meu cérebro pra criar um texto bonitinho e pra quê? Eu queria mesmo, eu, o narrador, ser um jogador de futebol, ganhar um milhão por mês e ser bonito, porque gente bonita é gente rica, pobre pode ser de cristal mas se não tiver cristal no bolso não vale nada. Ai eu, narrador, se fosse jogador de futebol não teria que enrolar ninguém inventando estórias - é, "estórias" com "e", porque é um fato inventado e tal... o quê? Há muito jogador de futebol que não sabe disso... - e me enrolando em público e... tá vendo, já esqueci o rumo do que eu ia escrever, e olhe que ia ser bom, o cara ia morrer e depois ele ia reencarnar como vampiro e ia pra uma escola e ia encontrar uma garota linda, mas ai ele não ia poder ficar com ela porque eu, o narrador, não ia deixar, eu ia colocar um lobisomem atrás dela, gostando dela mesmo, uma parada fálica mesmo, ai... arrrrgh, essa estória ia ficar uma merda!

1 comentários:

Que loucura! Acho que tu anda dormindo muito pouco! rsrsrs

 

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