Sábado, 05 de Junho de 2010
Vaticínios do Apocalipse
I
Cínclises ao compasso de explosões de corpos,
Vísceras negras nécticas em um mar de desgraça,
Milhões de incrédulos arrependendo-se da farsa
De pecar sem culpa e agora serem mortos.
O planeta virou um enorme campo de caça
Onde cada crânio frágil o caçador amassa
E todos os esqueletos inúteis deixa tortos.
Vômito expelia-se na vagina das prostitutas!
Inúmeras necroses às orbitas circundavam,
A única árvore adotava urtigas como frutas.
Minúsculas almas, pouco a pouco se salvavam,
Porém, para meu espanto, cabiam indubitavelmente
Em uma gota de orvalho já inexistente.
II
Vejo um firmamento de íris escorchadas
Ainda aquecidas pela última visão,
Fixam-se no nada da destinação
E desprendem-se das vidas encenadas
Vejo anjos de almas enchamboadas,
Jazem nos peitos o esqueleto do coração,
Nas faces, assisto a habitação
De vermes e suas índoles putrificadas
Estranhei nas almas os seus percursos,
Desciam como que fora afundando.
Caíam no inferno tais espíritos avulsos.
Esfoliados de pureza foram nadando
Em um mar de micro-lâminas imenso
Formando um líquido negro, podre e denso.
III
Litros de elefantíase esparsos no ar,
Micro-demônios necrófagos esfomeados
Vendo nos corpos inertes e putrificados
Uma única chance de se banquetear
Úlceras divinas começam a se espalhar.
Abscessos imarcescíveis por todos os lados
Fazem os vômitos serem ansiados
Até por quem não tem mais o que rejeitar
No céu, dissipou-se o sol ardente.
De seus raios, apenas partículas resta.
Pois o homem, por ser tão reincidente
(E isso, agora, ninguém contesta)
Destruiu a luz que lhe dava a mão
Semeando cicuta em cada coração!
IV
Linhagens mutiladas por lâminas silenciosas,
Hereditariedades circunscritas e cerradas
Por músicas pútridas e longas externadas
Pelos demônios e suas harpas harmoniosas.
De única arte, as necrofagias são formosas.
O pai, afim de querer as horas prolongadas
Encontra nas entranhas das pessoas amadas
Três segundos de vida e um pó de putrefatas rosas
O grande lençol da humanidade, que no inverno
Aquecia cada fria alma que precisasse
E no calor cobria os medos do interno
Agora, vejo, é como se asfixiasse
Todos que rasgaram seus tecidos,
Revelando-os frágeis, inúteis e vencidos.
A areia entra em profunda decomposição.
Seca, como se já não fosse, evapora
E em um átimo rapidíssimo vai se embora
O triste fim de toda a criação!
A água, por outro lado, apodrece agora
Vejo-a, viscosa e negra na coloração
Entrelaça-se nas fendas do chão
Enquanto a alma da Terra chora
Pintaria, leitor, este triste retrato
Mas a repugnância a arte me toma
E o inferno por ora faz um parto
Dando à luz dois gêmeos que à tona
Seguem reproduzindo o podre ato
De embalsamar almas em coma!
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