Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Tenho medo de mil coisas


Tenho medo de mil coisas,
Inclusive de perder-te,
Logo tu onde a natureza
Exagerou nos enfeites,
A por nos olhos mil luzes,
Na tua pele mil perfumes
E na boca este deleite...

Esse deleite de língua,
Teu músculo semi-santo,
Cujo toque me enlaça
Deixa meu corpo bambo...
As pernas quase não sinto...
Se disser o contrário minto...
Pois converto-me em molambo.

Sou molambo em teus braços,
Brinquedo em tuas pernas,
Sou leso, safado e biruta!
Sou a brincadeira moderna
Que a tua criança pediu,
Sou o pouco de luz que caiu
No escuro da tua caverna.

Oh, caverna de meu agrado!
Sou rei sem alguma coroa,
Bobo sem nenhuma piada,
Sou povo que não se amontoa,
Verso que não encanta,
Sou a sereia que não canta,
Sou soneto que não se entoa.

Tua pele quando me toca
Amnésia faz de mim
Não de esquecer coisa pouca,
Mas de esquecer bom e ruim,
Esquecer fêmea e macho,
Onde me perco, onde me acho,
Esquecer do não e do sim.

Tenho medo de mil coisas
Inclusive de perder-te,
Toda vez que faço versos
É este mesmo solerte,
Pois não controlo as palavras
Que nasçam da mesma aljava
Onde nasce o prazer de ver-te. 

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