Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Inalterável


Dê-me cá uma tesoura e corto aqui o meu destino
Ainda com todas as máquinas
Com todas as febres...
Quantos deuses hei de suportar, Deus, quantos?
Quantas feras hei de engolir,
De quantos desapontamentos serei pai?

 Ah... e essas infinitas vinte e quatro horas diárias?
Nenhum mal existe senão por mim
E acham-me grosso, repulsivo e deselegante...
Que tem?
Que há comigo que não tristeza?

Ah... e a carícia das lágrimas
O arrependimento dos prantos!
Toda essa abjeção da alma que nos contorce o ventre
E nos explode às pálpebras e aos cílios.

Creio conceber a única culpa dos inocentes, a de nascer,
Sim, nascer, pois,
Eu, inocente que sou de tudo, de todos e de todos os porquês,
Sinto, mais que todos, a culpa que carrego.

E ainda hoje alguém morreu,
E o padeiro a fazer seu pão
O jornaleiro o se jornal
O lixeiro a recolher seu lixo.

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