Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Cabeças



Eu dirigia devagar. Cuidava por não atropelar buracos na estrada para que a caminhonete não trepidasse muito. Ela precisava de um sono tranquilo. Meus pulsos, com pequenos rabiscos de sangue caindo, doíam ainda por causa daquelas malditas algemas. Porém, se não tivesse eu matado aquele policial não estaríamos aqui, ela e eu, nenhum de nós.

Sua cabeça estava apoiada em meu ombro. Quando eu movia o câmbio, era engraçado, sentia mesmo um reclame vindo de sua boca. Graças um motoqueiro idiota que passara a todo vapor a me ultrapassar, minha garota acordou, cheia de suas carícias comigo:
- Uhm, uhumhumhummm... – sua boca estava tapada por um fita adesiva, eu não queria que ela desperdiçasse a voz linda que tinha.
- Calma, amor – disse – estamos indo pra casa! De volta pra casa. – ela me respondeu com mais alguns grunhidos e calou-se, sem forças.
Começou a debater-se dentro do carro, acho que iria me dar uma tapa se caso estivesse com as mãos livres. Mas como amarrei bem as duas, ligando uma a outra, tinha certeza de que isso não iria acontecer.
Desci do carro, abri a porta para que ela descesse, como qualquer cavalheiro apaixonado faria. Esperei por um tempo ciente de que ela desceria por si só, mas como suas pernas estivessem coladas uma na outra, percebi que já não o faria sozinha. Coloquei-a sobre o ombro, carregando-a como um troféu, como todos os namorados, a pus no chão, num gramado verdinho, longe de tudo, víamos apenas uma casa ao longe, uma casinha onde, disse a ela, moraríamos e teríamos nosso filho. Penso comigo que ela emocionou-se, chorou, vejam só! Foi uma coisa linda, a lágrima descendo, eu falando de nosso futuro. Seus olhos melancólicos eram lindos. Fui ao carro. Deixei-a a contemplar o pôr-do-sol.
Peguei minha pá no porta-malas. Fazia frio naquele dia. Olhei pra ela sério.
- Eu te prometi tanta coisa, meu amor. Tão pouco cumpri, tão pouco. Não sou digno de ter-te. Não sou ideal pra você. Você merece mais, mais do que um inútil, imbecil, bruto. Mas ainda te amo. Se não meu, teu amor de mais ninguém será, não posso deixar isso – ela grunhia cada vez mais alto -, não posso deixar que você vá – os grunhidos aumentam, o pranto a consome -, ou ama a mim ou não ama mais. – Uhumhumhuhm. Não agüentei mais os grunhidos.
Cravei a pá com tanta força na cabeça dela que o crânio fez um som oco, quebrando de primeira, o sangue escorreu aos poucos. Não demorou e as convulsões a atingiram, o corpo entrara em colapso. Para acabar com o sofrimento, dei mais seis pancadas em sua cabeça com a pá. Deixei a cabeça aberta no gramado, o cérebro cobriu a grama, parecia uma pizza, foi engraçado. Terminado, passei horas a cavar um buraco descente para enterrá-la. Como quis a certeza de que ela estaria morta - para não amar mais ninguém - com leves pazadas separei seus membro e como a cabeça já estava toda esbagaçada restou apenas o cotoco. Queria ver alguém querê-la assim. Depois de ter a certeza de que tanto necessitava a enterrei, por partes, que fique claro. A cabeça pus num saco e levei pra casa, caso contrário alguém acharia o corpo e certamente se apaixonaria pela minha amada; quero ver alguém se apaixonar por uma pessoa sem cabeça!  

2 comentários:

Adoreeeeeei! =D
O mundo está cheio de mortos vivos, aliás, de vivos mortos! São pessoas que falam, cheiram, ouvem e sentem o gosto ora amargo, ora doce, ora azedo,ora salgado,mas não sabem discernir a diferença entre ambos. Mas como saberia se não têm cabeça? Pode alguém se apaixonar por alguém assim? ;D

 

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...