Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Alex Luís Roque

Quinta, 03 de junho de 2010


     Devo confessar que prefiro a prosa à poesia, principalemente se esta poesia não apresesntar rimas. Porém este meu pensamento, ou preferência, como queira, vem diluíndo-se ao decorrer do curso de letras. Foi só ler Drummond e Bandeira que minha querela com os versos brancos e livres foi se esvaindo...
Apresento agora, alguém que me mostrou também a beleza dos versos livres, mostrou que não só de rimas vive a poesia e eliminou, mas ainda não por completo, aquele meu preconceito dantes, ele se chama Alex Luis Roque. Ao invés de falar de sua poesia, dou-lhe a "voz":


Canção


Meu poema é terra
Limite branco onde pousa o chão
Inefável verdade refugiada
Em novembros flagelados
O tempo e a eternidade
Assinalados sem brasão


     Como se pode perceber, a poesia de Alex é algo que devemos tomar como reflexão, a sua completa interpretação - ainda que seja impossível - é o produto de um processo demorado, paciente e agradável, vejamos mais deste grande poeta paraibano:

A imitação do amor

A imitação do amor num instante preclaro
Ressuma a aparente imagem do ser irreversível
Que é a luz da lua divisa o incoersível
Numa sucessão infinita alheia ao dano
A imitação do amor em dédalos profanos
Apregoa a sede omissa da última flor do Lácio
Que se reveste tolentinamente
De olores ocultos numa profusão de eternidades

A imitação do amor nas amarras da linguagem
É o côncavo e o convexo de um lavor ordinário
Que perpetua a glória merencórica
Sob o cantar de três pássaros de chumbo

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A Ezra Pound


Repudio o azul das manhãs
Onde incorre o corte de ferir
A tez Maçã
E se o silêncio alimenta-se
De palavras inexatas
Não serei nenhuma antena
Mas a linguagem putrefata

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No limiar das horas pardas


No limiar das horas pardas
Um frêmito de dedos paira
Sob o seio volúvel da mulher amada
E o choro na margem rubra dos olhos
Pios de conteúdo desnuda a dor mais
Que circunflexa dado ao espelho
De um vasto oceano imperecível
Como o amor e suas vicissitudes
Num lume de plumas alheio ao
Vôo dos pássaros

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Maria Clarice

Maria Clarice sabe-se sol
Em pairagens de acesa monotonia
Na construção diversa e translúcida
De iluminar outras cercanias

Maria Clarice sabe-se vento
A percorrer o impacto das horas
No triunfo da ordem
Dos vândalos danos subumanos

Maria Clarice sabe-se ilha
No afeto totalmente fechado
Da mulher em flor no desejo
De externar-se

Maria Clarice sabe-se nuvens
Na acidental candura que silencia
A solidão lunar dos pássaros
E dos dias

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O jambo


Fruto rubro de tênue couraça
Encantamento de céu no sentido
Amplo da palavra
Doce lampejo do sal de ignotas bocas
Tens a doçura do mel e o encanto
De flor airosa

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O mar


Do mar busco a seiva
Vil e ardosa das conchas
A lépida brancura das águas
A tênue pureza da premar

Do mar busco o salgado
Das palavras em oceano
O sargaço sob o silêncio das areias
As ondas em tépido desmaio

Do mar busco o aço do peixe
Que se afoga
O mergulho no delírio dos búzios
A sede de não parar em qualquer porto
Do mar busco a maresia numa
Brisa alísia
O aguçar dos seus bêbados redemoinhos
O sal da palavra que me completa


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     O que se nota é que a poesia de Alex Luis Roque é uma pedra para o bom leitor mastigar! Uma pedra de sabor único!

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