Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Velas e velhas. Lágrimas e suor.



Estávamos todos tristes. No centro da sala o caixão imenso. As velas e velhas a se derreterem. As velas comemoram aniversários e choram mortes, diria o poeta. O homem, com algodão enfiado em todos os buracos, morrera de algo cuja imaginação do leitor quiser. Não vim contar acessórios, mas a essência. A sala era pequena, pouca iluminação. Ouvia-se conversas chorosas, chiados, sussurros, mas ninguém que discursasse pelo homem morto. A viúva, dependurada sobre o marido, acabara de perder seu bem maior, seu ponto fixo, sua estrela em terra de penumbra. Chorava esmorecida e inconsolável, como todas as mulheres.
Os dois filhos próximos ao caixão. Um rapaz alto, de trejeitos feminis, talvez um Ulisses em matéria de Penélope. Charmoso. A garota era mais simples, vestia muitos panos. Tinha uma feição fechada, rancorosa. Mas sua face era sublime, traços leves, plumáticos. Helena de jeans. Ambos em volta do caixão.
O resto da família passava rápido pelo falecido, olhavam-no. Uns comovidos, outros satisfeitos. A pequena casa estava entupindo-se de pobres. Do lado de fora alguns pirralhos descamisados rindo. Assassinaram um bandido, um cadáver adiado, como diria um outro poeta. A morte assusta a todos, todavia os pobres parecem quebrar essa máxima, estrangulá-la com seus risos sem sentido. Ela não chorava. Ela era helênica, no entanto não chorava. Eu gosto de ver mulher chorar. Ela não chorava. Isso me preocupava profundamente. Imensamente profundo.
Todas as mulheres estavam chorando, ela não. Ela não chorava. Isso me inquietava como palhaça face à plateia inerte. Mulher tem que chorar. Levantei-me de onde estava, caminhei para próximo do caixão. Falei alguma coisa com o rapaz charmoso. Falava bem. Fitei a moça, vi seus olhos helênicos, brancos, intocados com toda semântica. Branca, não como nuvem, não como leite, só branca. Apesar da roupa cobrir-lhe o corpo, vi seus seios juvenis, a graça da mocidade. Uns braços tão brancos e macios. Porque os toquei. Calma, eu disse, o momento é difícil, mas tudo pode voltar ao normal. Ela não me olhou, tampouco falou nada. Sei que é difícil perder alguém, mas depois se ajeita, ele vai pra um bom lugar, completei. Finalmente a menina olhou-me. Olhos cáusticos. Tanta vida em seus olhos, que parecia loucura a morte tão perto. Lábios rosados, súplices. Príamos aos meus lábios Aquiles. Você não quer descansar um pouco?, perguntei.
Fomos à cozinha. Tomamos água. Via-a abrir a geladeira, buscar algo na parte de cima. Com os braços levantados e corpo estendido, rígido. Vi seus músculos tesos. Costas desenhadas, finalizadas com uma curva tão suave que o próprio Caravaggio não o faria. O jeans apertado contornava suas coxas. Eu teria que fazê-la chorar.
Você não está triste? Um pouco. Mas seu pai morreu, certo? Já morreu faz tempo! Então esse não era seu pai? Não, não é isso, ele morreu pra mim. Por quê? Prefiro não falar. Por quê? Quem é você mesmo? Do pai a gente tem que gostar, não importa! Você não teve pai, não é mesmo? Garota, você tá me confundindo. Ah, é? É sim. Por quê? Quero fazê-la chorar! Como é? É, mulher tem que chorar! Você é louco!
Por baixo da mesa pus minha mão sobre sua coxa, arrastei sobre seu jeans minha pele. Ela entendeu o recado. Estávamos a sós na cozinha. O eco dos prantos plantava em nós um espírito juvenil. Talvez possamos conversar melhor no quarto da mãe, ela disse. Foi muito fácil. Tinha que ser difícil.
Entrando no quarto, parada à porta, titubeou. Empurrei-lhe pra dentro pondo meus lábios em seu ombro, subindo até a orelha, sugando seu medo. Seus olhos eram receosos. Tranquei a porta. Não havia mais volta. Ela ficou de frente pra mim. Por que você não gostava do seu pai? Porque ele não me queria...
Joguei-a na cama, com força. Cai sobre ela devagar, pra que sentisse meu domínio. Senti sua respiração ao encontro de meu pescoço, até que desci a cabeça e encontrei seus lábios-rosas. Minhas mãos tinham movimentos próprios e dissociados de meu cérebro. Aos poucos, ia subindo sua primeira blusa, ela, rápida, fez com que a tirasse rápido. Ela queria algo ligeiro, eu queria fazê-la chorar. Tirei a segunda blusa e enfim vi seus seios alvos, pontudos, lanças monalísicas lisas. Já não sabia onde repousar a boca. Depois de muito (des)pensar, resolvi sugar seus seios brutamente, algo próximo da dor, imagino. Ela era forte. Eu sugava e ela me desabotoava a calça. Estava tudo tranquilo até que senti meu membro mais fraterno em sua coxa, pulsando. Larguei de imediato seus seios saborosos e me pus a tirar-lhe o maldito jeans. A calcinha veio junto, como ajuda do destino. Não havia um pelo em seu sexo. Olhei-a nos olhos por um instante, num diálogo mudo. Olhos safados, lábios mordidos, mãos no meu ombro, e eu desci com a língua escorregando sua barriga, até chegar na extensão rósea de seu prazer. Onde minha língua pôs sentido em sua boca. Gemia baixo a cada sucção. Massageava lento seu sexo, e ela pressionava-se contra seu corpo, com as mãos em minha cabeça, as pernas dobradas, pressionando meus ouvidos, seus gemidos altos, minhas mãos em sua face, meu fôlego acabando – por um gostoso motivo.
Levantei-me já hirto, inflexível. Vira de costas, disse. Ela, ainda mole, virou sem rebelião. Pôs os joelhos na cama, mandei tirar. Quero que deite, ordenei. Ela deitou, com os seios no colchão. Vi tudo que queria. Ela de costas, subi na cama, deitei sobre ela, pra conseguir melhor me apoiar, suspendi o corpo. Abre as pernas um pouco, mandei. Pronto, agora você escolhe o que fazer, comentei. Ela segurou, e colocou devagar em seu sexo, fazendo-me deitar sobre ela, em um contato quase cem por cento. Apoiei-me apenas em uma perna e comecei a introduzir lentamente na garota que não chorava. Seu gemido começou a aumentar, ao passo que na sala começaram os cantos católicos. A ladainha estava formada. As velhas cobriam o som da menina. Pode gemer, gostosa, dizia baixo em seu ouvido. Aumentei um pouco o compasso do movimento, enquanto suas nádegas roçavam na minha virilha. Ela pôs os braços no meu pescoço, buscando minha boca em sua nuca, no que eu suguei-lhe bem a região dos ombros. Ela gemia, gemia mais. Vai delícia, tá gostoso? Tá sim, coloca tudo, vai! E eu bombava mais forte  mais rápido ligeiro,mais forte bombando bombando forte rápido ligeiro bombando forte rápido ligeiro bombando gemendo gritando forte rápido ligeiro bombando bombando bombando mais rápido, rápido... gememos ao mesmo instante, num orgasmo compartilhado.
Ela jogou a face pra o colchão rapidamente. E enquanto eu tirava meu músculo de dentro do dela, pude ouvi-la chorar. Foi como se eu houvesse repetido o ato. Meu pai nunca me quis assim!, disse. Por que não? Não importa, mas me custou cinquenta reais.
Daí por diante, leitor animado, a história é pouca. Do que lembro é apenas os policiais a baterem à porta. A garota algemada. Ela não chorava. Mas é como não dizem: se não chora por mal, chora por bem.

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