Parnaso em Fúria 01

A lírica de Felipe D´Castro...

Sobre Flores e Feras



“Algo há nas flores que acalentam feras”
Cláudio Aguiar

Um dia, perdi-me de mim, em mim mesmo,
Achei-me, portanto, perdido a esmo,
Aproximadamente enfurecido,
Mas como um ogro a olhar pela janela,
Vi uma jovem morena tão bela
Que me esqueci de estar em mim perdido,
Algo há nas flores que acalentam as feras.

Ah, que lábios, que pele, e que corpo,
Aquilo tudo deixou meu urro rouco
Como um leão velho, esmorecido,
Que ao ver sua presa ali, só, tão singela
Percorre-lhe algo da mente às canelas
Que o paralisa, deixa-o adormecido.
Algo há nas flores que acalentam as feras.

E embora houvesse esquecido a prisão,
Ainda estavam amarradas as mãos,
E minhas pernas, sôfregas, amolecidas,
Entregues às dores doutras eras...
Ainda sim, o coração frio acelera,
E todas as dores são esquecidas...
Algo há nas flores que acalentam as feras.

Ah, Deus, e não poder-me ultrapassar,
E não poder-me desencorporar...
Vontade de quebrar todas as vidas...
Mas tu, onde a natureza exagera,
Fez-me ver o opróbrio que eu mesmo era,
E abrandou-me os nervos e a dormida...
Algo há nas flores que acalentam as feras.


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